
As Bacantes | Sessões Finais
Após temporada de estreia em novembro de 2024 e uma série de curtas apresentações em fevereiro deste ano, As Bacantes retornam agora em junho à Sala Experimental para as apresentações finais, sempre aos sábados, às 18h, e aos domingos às 16h, marcando as últimas oportunidades para conferir este que foi o 10° experimento teatral de montagem do Núcleo TUSP da capital.
O deus Dióniso é filho de Zeus e da mortal Sêmele. Quando a deusa Hera, esposa de Zeus, fica sabendo da traição do marido, disfarça-se em forma humana e conquista a confiança de Sêmele, que conta a ela sobre seu amante divino. Hera então a convence de que se ele é mesmo um deus, deveria mostrar-se a Sêmele em sua forma divina. Zeus, que havia prometido jamais negar pedido algum a Sêmele, faz a vontade dela. Entretanto, como os mortais não sobrevivem ao contato direto com a forma original de um deus, Sêmele é fulminada pelo poder de sua manifestação divina. Para proteger Dióniso da fúria de Hera, Zeus o esconde em sua coxa, até que sua gestação se complete e ele possa realmente vir à luz.
O prólogo nos mostra Dióniso, disfarçado em mortal, recém chegado em Tebas. Pelo deus, ficamos sabendo que Sêmele, sua mãe, foi difamada pelas irmãs Ágave, Ino e Autonoe, que a acusaram de ter se deitado com um mortal e não com Zeus, e que, portanto, Dióniso não teria origem divina. O deus do vinho e do êxtase faz com que as mulheres tebanas, incluindo suas três tias, abandonem suas casas, “picadas pelo frenesi da sua loucura”, e corram para as montanhas. Penteu, filho de Ágave e atual rei de Tebas, declara guerra às bacantes, capturando Díoniso, que pensa ser um sacerdote do culto báquico, não o próprio deus. Inicia-se, então, a vingança de Dióniso.
Na tragédia de Eurípides, o deus Dióniso também é chamado de Baco e Brômio. O coro que se vê em cena é formado pelas bacantes que acompanham o deus (percebido por elas como sacerdote do culto) da Ásia até Tebas. As mulheres de Tebas, incluindo Ágave, Ino e Autonoe, formam o grupo de bacantes que sabemos estar concentrado no monte Citéron.
O trabalho do diretor grego Theodoros Terzopoulos foi referência para o entendimento da tragédia como linguagem física, de “violência concentrada”, pois tanto a direção quanto a preparadora corporal tiveram contato direto com Terzopoulos e sua companhia, o Teatro Attis, em momentos diferentes. E não por acaso, o método de Terzopoulos originou-se em sua primeira montagem de As Bacantes, em 1985, que partiu da questão: “o que é o transe dionisíaco?”
O processo nasceu então focado na referência do método de Terzopoulos, mas vale dizer, não com a proposta não de emulá-lo, e sim de dialogar com ele, levando em conta, principalmente, as pessoas, os corpos e a realidade do aqui e agora do Núcleo.
Algumas questões nortearam este processo: como trabalhar a partir de uma linguagem centrada no aspecto físico, diversa da tradição psicológica do realismo? Como priorizar o texto da cena, potencializando assim os equivalentes físicos e imagéticos criados a partir da dramaturgia de Eurípides, e não uma suposta fidelidade literária a ela? Ao nos debruçarmos sobre essas questões, o material cênico que fomos levantando ao longo dos treinamentos, leituras e ensaios traçou um caminho para resolvê-las na prática. Por sim, fica a lembrança de que a palavra “teatro” vem do grego “theátron”, que era o espaço destinado à plateia, não aos atores. “Theátron” era o “lugar de onde se vê”. A dramaturgia, a encenação, os corpos, luzes e sons nada mais fazem que cumprir seu papel de fazer o teatro acontecer no seu lugar de origem, por excelência: na cabeça do espectador.
O resultado se completa agora, na relação sua com o público.
AS BACANTES | Núcleo TUSP da capital | Últimas Apresentações
07 a 22 de junho de 2025 | sábados, 18h; domingos, 16h | 65 min. | 14 anos
Sala Experimental | 40 lugares | Gratuito, ingressos 1h antes da sessão
Acesse o programa digital aqui.